A inesquecível final de 1971
Hoje em dia, as crianças quando nascem ganham imediatamente do pai, dos padrinhos ou dos avós o uniforme completo de algum time pelo qual a família acredita que o pequeno deve torcer. Mas não era assim há cinquenta anos. Nas famílias que gostavam de futebol, o trabalho era de base. Não me esqueço de como virei um torcedor do Tricolor das Laranjeiras.
Meus avós paternos, italianos, não eram tão ligados em futebol. Em Turim, meu avô foi remador de um clube que existe até hoje, a Società Canottieri Caprera, fundada em 1883. Quando chegaram ao Rio de Janeiro, foram morar perto do Fluminense, cuja bandeira lembra a da Itália. A simpatia foi imediata.
Já meu avô materno era completamente apaixonado por futebol, como já contei aqui (leia Sempre perto de mim), e jogou como amador pelo Fluminense. Tornou-se sócio-proprietário do clube. Influenciar o neto não apresentava grandes dificuldades.
Mas o papel fundamental na conversão foi de meu pai. Escutar jogos pelo rádio de pilha, ver videoteipes domingo à noite — isso mesmo, naquele tempo não havia transmissão de jogos ao vivo –, e mesas-redondas com mestres como Nelson Rodrigues, João Saldanha, José Maria Scassa, Vitorino Vieira, Luís Mendes para comentar a rodada do fim de semana, entre outros, eram algumas das ferramentas de doutrinação. E para completar, como toque principal, ainda havia as visitas ao estádio das Laranjeiras, para alguns jogos “mais fáceis”, em que, por pior que estivesse o time, sempre se assistia a uma vitória, mesmo que por magros 1 X 0.
Aprendi histórias de Castilho, Escurinho, Telê e Valdo. E vivi histórias de Felix, Samarone, Flavio, Denilson, Altair, entre outros. Mas o que move uma criança a torcer por um clube é a confiança no que o pai diz, e isso, eu garanto, tive de sobra.
Em 1971, o Botafogo tinha o melhor time da cidade e um dos melhores do país, com nada mais, nada menos que três titulares da Copa de 1970 e outros dois que atuaram em algumas partidas da mesma Copa, enquanto o Fluminense contava com um grupo medíocre. Na decisão, o adversário levava a vantagem do empate. Domingo de manhã, eu escuto:
— Vamos ao jogo!
— Esse jogo? Vamos perder! O título é deles.
— Vamos lá! Quem sabe a gente não dá sorte?
E lá fomos nós, Maracanã lotado, dois terços da torcida composta por botafoguenses. Calor. Jogo duro e nervoso. Aos quarenta minutos do segunto tempo, a torcida deles começa a cantar.
— Pai, vum bora!
— Só saio quando o juiz apita.
Quando fui resmungar de novo, houve falta a favor do Tricolor. Bola na área do Botafogo, todos se levantaram e, por uma nesga, eu só consegui ver que ela entrava. Gooooool!!!!!!. A explosão foi incrível!
Enquanto abraçava meu pai, eu ouvia:
— Eu não disse? Eu não disse?
Fomos campeões em cima do melhor time da cidade e isso era demais para quem tinha doze anos. Guardei o Jornal dos Sports da segunda-feira seguinte por tanto tempo que o cor-de-rosa da capa chegou a desbotar. Foi o primeiro de muitos gritos de campeão no estádio. Saudades de ir ao Maracanã com meu pai. Saudades de andar de mão dada com ele na saída do estádio.
Além de aprender a nunca abandonar um jogo antes do juiz apitar, a minha confiança em tudo que meu pai dizia multiplicou-se em um zilhão.
Mesmo nos piores momentos do Fluminense — e olha que esse time tem testado meus sentimentos — eu não o abandono. Fico chateado, deixo de ver alguns jogos, mas permanece o sentimento de que hoje podemos dar sorte.
Nosso Flu já foi campeão da série “A” 3x e da série “C”, lembra, agora vamos ganhar a série “B”. É o título que nos falta. Abraços.
Assim completamos a galeria!
Caro amigo,já passei por isso em 2.007,nos reerguemos,subimos,ganhamos a LIBERTADORES,MUNDIAL,tudo isso em 5 anos.Mas uma coisa é certa o seu FLU tá pagando aquela virada de mesa dos anos 90 .Abração
OK quanto a pagar a segunda divisão, mas acho esse papinho meio gasto. aiu porque n ão jogou e o patrocinador não entende nada e botou lá o poste dele.
Irretocável seu texto que transmite a mesma emoção que senti nesse mesmo jogo que meu irmão ( um deles que era tricolor)me levou Mauro.
Parabéns e vamos torcer por dias melhores para o nosso tricolor das Laranjeiras
Agora 2013 é passado, vamos ganhar a segundona!