Apaixono-me por olhos. Não pela cor. Pelas histórias que contam, pelo que me dizem de sua dona. Não tenho preferência por tamanho, formato ou cor. Precisam dizer meu nome, ao me mirar. Sonho com os olhos da Morena.
Atraem-me os cabelos. Gosto quando emolduram o rosto. Mas verdade seja dita, são as mulheres que moldam os cabelos. É seu jeito de jogá-los para lá e para cá que acho que me chama a atenção. A virada de cabelo da Morena me fez virar o pescoço.
Intrigam-me seus pensamentos. Como aquelas que fazem questão de manter uma aura de mistério, mesmo quando guardam apenas pequenos segredos. O que passa pela cabeça dela? O que ela lê? Que música escuta? O que faz a Morena sonhar?
Seria fácil, se não fosse impossível saber o que pensa a cada minuto. Nem mesmo se ela tirasse os óculos escuros eu olhasse bem no fundo daqueles olhos eu conseguiria saber da infinidade de coisas que estão ali ao mesmo tempo. Sei apenas que não devo jamais tentar enganá-la.
Será que é de bater papo sem hora para terminar? Ou puxa conversas com estranhos, o que é a última coisa que faço? E se ela é grudada no smartphone e responde mensagens antes de responder a quem está na frente dela? Será que gosta de esporte, a vascaína? Será que me acompanharia numa prova de corrida de rua, Morena?
E se além de marrenta, for do tipo natureba. E se na hora do cinema quiser assistir àqueles filmes iranianos. Não cobro coerência diária, mas quero encontrar quem procura a coerência da vida. Os caminhos são complicados, mas ela é do tipo que sabe muito bem onde e como quer chegar, aquela Morena.
Chove no Rio de Janeiro. Pistas? São muito poucas. Resta-me fazer ponto naquela loja de sucos e torcer para dar sorte.
E se der sorte, vou pensar um pouco no que dizer naquela primeira conversa. Mas na hora H, nada de planejamento, tem que deixar rolar…