Vaidade é coisa de homem

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Cuidados básicos

 

Passei a adolescência inteira de cabelo comprido.  No Colégio São Bento, durante muito tempo, o corte era obrigatório, deixando a “orelha de fora”. Depois que saí de lá, deixei o cabelo crescer apesar do ar de reprovação do meu pai.

Foi proposto um acordo:

— Notas altas no colégio novo e esse cabelo sempre limpo!

— Combinado!

A primeira parte dependia de mim. Para cumprir a segunda, apelei para a minha mãe e pedi que comprasse um xampu legal. Afinal, meu cabelo liso fazia sucesso com as meninas.

É importante lembrar que, na década de 1970, xampu era item supérfluo, ocupando não mais do que um metro nas gôndolas dos mercados (os supermercados vieram depois). Percebi que gostava de me cuidar e me vestir bem, apesar de usar algumas das tradicionais peças do vestuário da época, como macacão Lee, camisetas Hang Ten, calças boca de sino e coisas assim.

O tempo foi passando e cultivei algumas vaidades que considerava normais, como usar perfume, estar bem barbeado ou com a barba aparada. Hoje em dia, já na meia-idade, na condição de observador do comportamento social dos habitantes do planeta, percebo que posso ser considerado praticamente um ogro. OK, um ogro um tanto pequeno, levando-se conta minha estatura. E vejam só: continuo uma pessoa que se preocupa com o que veste. Por conta de meu tipo físico sempre tomei cuidado para não parecer anão de jardim de terno ou alguém que comprava roupas em A Colegial, estabelecimento que meus contemporâneos certamente conheceram. Essas idiossincrasias, que talvez até chamassem atenção há vinte anos, não passam de pequenos tiques diante do que vem sendo praticado.

Sempre acreditei que as mulheres se arrumavam para as outras mulheres, em uma competição sem fim. Agora me dei conta de que os homens estão iguais ou piores, pois ainda agem de uma forma dissimulada.

Experimente dar uma volta no shopping. É quase impossível encontrar um homem que não esteja com os cabelos perfeitamente desarrumados, as sobrancelhas despretensiosamente feitas, e com um rabo de olho em qualquer superfície que reflita seu visual. Os exageros chegam a me incomodar, o que faz com que eu repare ainda mais.

Há muito cheguei à conclusão que as mulheres devem dedicar muitos minutos para vestir determinadas calças compridas. Hoje, percebo que os homens também passam pela mesma situação. E algo que me espanta é constatar a proliferação de canelas finas. Taí uma dúvida  que preciso tirar com especialistas. Como foi que os representantes do sexo masculino chegaram a atual configuração:  peitoral imenso,  pescoço que não permite uso de camisa social, bíceps e tríceps com medidas absurdas, tudo isso sustentado por dois gravetos que chamam de pernas. Sempre achei que as mulheres gostassem de homens com pernas bonitas!

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Menos maquiagem, Mel.

 

Uma ida  à seção de produtos masculinos de qualquer drogaria revela que eles já ocupam um território superior aos dos bebês, incluindo fraldas e tudo mais. Entre tinturas e xampus para todos os tipos de cabelo, os produtos para depilação começam a ganhar destaque. Sou do tempo em que as coisas funcionavam ao contrário. Quanto mais “urso”, mais velho nós parecíamos. E isso aumentava as chances de sucesso.

A vaidade requer sacrifícios. Para constatar, basta uma simples volta na praia.  A frequência se divide entre fortões de cabelos desarrumadamente perfeitos, peitoral grande e depilado, preocupados em fazer notar seus dotes físicos, e os desalinhados, barrigudos e normalmente mais tranquilos, com sorriso no rosto e cerveja na mão, sem necessidade de provar nada para ninguém.

É verdade que o Rio de Janeiro contribui para exacerbar esse lado narcisista dos homens, cada vez mais cultivado. Afinal, há duas estações: verão e menos verão. O corpo está em exibição na maior do ano.

Como sigo o lema live and let live, me mantenho como observador, jamais como um crítico. Mas os exageros me preocupam. Em geral, levam a uma reação oposta depois de algum tempo. Ou seja, os “ursos” podem voltar à moda a qualquer momento. Ah! E aqueles com o físico do Mick Jagger também!

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4 comentários

  • Mariane Almeida disse:

    Qual mulher não aprecia uma barba-menina? Sou do tempo em que homem possuía um estereótipo que o definia. Hoje isso não é mais reverenciado, entretanto, a despeito de saber que tipos pré-definidos nem sempre correspondem à realidade, prefiro ainda alguns padrões masculinos próximos aos de outrora, desde que mantenham correlação com outro aspecto definidor do homem de “antigamente”: a palavra firme. Estou viciada em vcs, amo lê-los.

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