Ela disse "sim"

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Sim I

Sua alegria era fácil de ser percebida. No rosto, ele estampava um sorriso permanente e um ar completamente avoado, como se nada na vida pudesse superar o “sim” que acabara de ouvir dela, minutos antes.

Tinha a mais absoluta certeza de que seriam felizes para sempre. O universo os colocara em rota de colisão porque estava escrito que tinham sido feitos um para o outro. Os gostos eram idênticos e até as diferenças eram complementares, como o ying e o yang, o preto e o branco.

Ele ria sozinho e andava na rua pensando na aliança e nos dizeres que seriam gravados. Cumprimentava senhoras, sorria para as crianças e brincava com os cachorros. Pensava nas duas famílias reunidas, nos primos e primas participando de intermináveis almoços e comemorações. As festas de Natal e os réveillons seriam inesquecíveis, com presentes, sete ondas puladas na praia e brindes ao amanhecer do primeiro dia de cada ano. As crianças seriam parecidas com ela, mas teriam o temperamento mais brando da família dele. E assim desenhava na sua imaginação cada detalhe da vida a dois, com uma perfeição digna de anúncio de margarina, com a família sorridente.

Recusava-se a voltar para a Terra. Preferia flanar indefinidamente pela felicidade acenada por aquele “sim”, o consentimento que abriria as portas para tudo com que sempre havia sonhado.

Andava e cantava como James Taylor:

“How sweet it is to be loved by you”

Às vezes tinha consciência de que talvez estivesse sendo otimista demais. Mas nesse caso, diante daquele “sim”, ele pareceria um cético se adotasse um comportamento diferente. Ela aceitara seu pedido. O que mais queriam os outros? Como podiam criticar sua devoção àquele amor prestes a se realizar. Precisava planejar com calma os próximos passos. Por mais que tentasse, ele sabia que não alcançaria a perfeição que ela merecia. Usaria todo seu esforço e sua imaginação para garantir que tudo seria absolutamente correto e preciso, digno de toda a sua beleza.

— Padrinho! Preciso definir os padrinhos! – pensou alto.

Ligou para seu melhor amigo e falou sem parar durante quinze minutos, sem lhe dar a mínima chance de fazer uma única pergunta ou comentário.

Quando parou para tomar fôlego o futuro padrinho disparou:

— Afinal de contas, que “sim” foi esse?

Com uma ponta de impaciência dirigida ao amigo incrédulo, o apaixonado otimista e incorrigível respondeu:

— Ela aceitou ir comigo ao cinema na semana que vem!

Depois de um silêncio de quase um minuto, o amigo falou com um tom de voz quase suplicante:

— De novo não! Essa é a quarta esposa que você arranja em menos de um ano!

O otimista e quase idiota de felicidade não se deixou abalar:

— Ah, mas essa é diferente.

Depois de ter ouvido tal argumento, o amigo resolveu entrar no jogo. Em pouco mais de um minuto percebeu que feliz era o outro, o apaixonado, feliz por continuar a acreditar eternamente no amor. Como padrinho eterno, talvez devesse entender que pessimista e idiota era ele, pois havia muito tempo não era capaz de se sentir tomado por tamanha felicidade.

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