O mundo em muitos cliques

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Sempre adorei viajar. E como a maioria das pessoas, sempre fotografei minhas viagens desde os tempos em que os rolinhos de filme com 24 ou 36 imagens faziam a gente pensar muitas vezes antes de dar um clique. Faz mais ou menos um ano porém que eu descobri uma coisa que a princípio me pareceu estarrecedora: uma das principais razões para por o pé no jato (detesto voar) e partir para lugares cada vez mais remotos ou voltar para velhos favoritos é o imenso prazer de enxergar o mundo sem pressa, com os olhos no visor da câmera. Era uma manhã linda e gelada, no outono de Praga. Eu havia me embrulhado em um monte de casacos para chegar ao clarear do dia na Ponte Charles, uma dos marcos arquitetônicos da cidade, em geral superpovoada. Um ventinho chato zunia enquanto eu explorava as assustadoras esculturas barrocas ouvindo apenas os meus passos, munida de uma câmera compacta e de meu iPhone. Aos poucos, o movimento aumentou. Vieram os músicos, os turistas, uma jovem oriental que posava para fotos num inacreditável vestido de noite. Caramba, eu poderia ter ficado ali o dia inteiro, se não corresse o risco de pegar uma pneumonia. Tive um estalo. Fotografar me fazia sair da cama, esquecer o frio. Abria meus olhos para as pequenas cenas do cotidiano. Eureka!

Quando voltei ao Brasil, resolvi estudar. E planejar a próxima viagem, claro. Foi aí que eu tive a segunda surpresa. Descobri que existem as chamadas excursões fotográficas, viagens feitas sob medida para criaturas como eu. Esqueça o formato clássico de um ônibus cheio de gente visitando dez cidades em cinco dias. Nada de grupos grandes nem roteiros corridos. “A luz é que me orienta quando monto um roteiro de uma viagem fotográfica”, explica a fotógrafa Stela Martins, que organiza tours no Brasil e no estrangeiro desde 2002. Em novembro, junto com a fotojornalista Maria Elisa Franco, ela vai levar um pequeno grupo para explorar as ruas de Paris e visitar exposições como o salão Paris Photo. Em vez de correr de atração em atração, o roteiro dedica um dia inteiro a determinadas áreas da cidade, como o Jardin des Tuileries, o Marais e Montmartre. “Quem embarca numa viagem assim quer curtir o lugar sem pressa para fazer um bom enquadramento, nem se importa em acordar mais cedo para encontrar as ruas mais vazias, com aquela cara de ‘ontem’”.

As fotógrafas Stela Martins e Maria Elisa Franco organizam visitas a Paris e arredores (na foto, Versailles)

As fotógrafas Stela Martins e Maria Elisa Franco acompanham grupos a Paris e arredores (na foto, Versailles). Crédito: Stela Martins

Ninguém precisa levar equipamentos caríssimos nem ser um expert em fotografia para aproveitar essas viagens diferentes. Um dos pontos fortes dessas excursões é justamente a oportunidade de conviver com colegas que têm diferentes níveis de conhecimento. Como o guia é um fotógrafo, todo mundo aprende muito. “O melhor equipamento é aquele que você consegue carregar com facilidade”, diz Stela. O norueguês Arild Heitmann, da Lofoten Tours, especialista em viagens fotográficas pelos países do círculo Ártico, faz coro. “Costumo me preocupar mais com os agasalhos de cada um do que com equipamentos. Hoje em dia, mesmo as câmeras compactas podem render excelentes resultados. Já tive até clientes que preferiram usar o telefone”, diz ele. Nas viagens que organiza pela Islândia, por exemplo, o grupo vai a campo a bordo de uma van, com uma programação flexível. Nos longos dias de verão, quando o sol praticamente não se põe, a luz permite que se fotografe a noite inteira. E foi assim que, certa madrugada, eu me encontrei no alto de uma pirambeira na tentativa de capturar a beleza de uma queda d’água de 60 metros de altura. “Nesses tours, um dos principais papeis do guia é saber estar no lugar certo, na hora certa.” Dormir para quê?

Black Beach, no sul da Islândia, com organização de Lofoten Tours.

Black Beach, no sul da Islândia, com organização de Lofoten Tours. Crédito: @fotos_ruins_de_10_países

 

Dicas para fazer fotos melhores em viagem:

  • Antes de sair de casa, procure conhecer bem a geografia e a cultura da região a ser visitada. Leia, veja filmes, converse com quem já foi. Pesquise imagens de fotógrafos que você admira.
  • Deus ajuda a quem cedo madruga. A luz do início da manhã é linda e as ruas ficam mais vazias.
  • Quando viajar para outro país, leve em conta os horários do nascer e do pôr do sol. O outono é uma excelente época para viajar para a Europa, mas os dias ficam curtos. Por outro lado, no verão, o crepúsculo pode acontecer bem depois das 22h.
  • Não tenha pressa. Fique atento à luz e à movimentação das pessoas. Não saia atirando como se não houvesse amanhã.
  • É possível capturar imagens originais até em lugares bem manjados, como a torre Eiffel e a catedral de Notre Dame. Procure encontrar a sua perspectiva pessoal.
  • Não é preciso carregar quilos de equipamentos para tirar boas fotos. Stela Martins sugere uma câmera compacta com controles manuais e um tripé leve, caso você queira tirar fotos de paisagem.

 

Próximas paradas:

palais-royale

Repouso no Palais Royale,em Paris: cidade perfeita para fotos

Paris Photo e Street Photography: Paris e fotografia combinam como goiabada e queijo. De 8 a 20 de novembro, com a fotojornalista Maria Elisa Franco e visitas a exposições. Poucas vagas. Informações com stela@stelamartins.com.br

Lofoten Tours: Arild Heitmann e Stian Klo, que já tiveram fotos publicadas no National Geographic Magazine e Lonely Planet, comandam grupos com até seis integrantes pelas belas e remotas ilhas Lofoten (na Noruega), pela Islândia e Ilhas Faroe. A programação para 2017 é extensa e pode ser conferida no site.

 

Texto de @fotos_ruins_de_10_paises

 

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