Inebriante

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Por Mauro Giorgi
Os perfumes se misturaram. Nem deu tempo de virar a cabeça para ver
quem era. A mulher já havia desaparecido em meio a multidão. Ele guardou
a lembrança do aroma, sabendo que procurar sua dona seria uma
insanidade. Tentou se divertir naquela festa em que poucos conheciam
poucos e em que muitos pareciam conhecer muitos. Estava ali por
insistência de alguns amigos e, depois de uma batalha por uma bebida,
partiu para procurá-los.
O tempo passou. A música começou a ficar mais baixa. Os salões se
esvaziaram. Enquanto os convidados ainda em condições de caminhar e
conversar se despediam, ele voltou a sentir uma vaga esperança de
reencontrar aquele perfume. Não durou muito. Logo se despediu e entrou
numa fila interminável para buscar seu carro. Estava sentado, pensando no
nada, quando voltou a ser atropelado pelo perfume. Lá estava ela, entrando
na fila com ar de briga, reclamando de carros que chegavam antes dos
outros. Ele esperou para ver se ela estava sozinha e resolveu se aproximar.
– Procurei seu perfume a festa toda…
– Foi você que virou a cabeça quando passei, percebi, só não entendi por
quê.
– Você sabe que é bonita. Qualquer homem viraria a cabeça para olhá-la
mais uma vez, mas seu perfume me atraiu muito. Procurei por ele de
alguma maneira pelos salões superlotados.
– Detesto essas festas mas vim porque a organizadora é minha irmã.
– E eu vim por amigos que queriam companhia, mas acabei voltando a
adolescência, buscando uma paquera.
– Cuidado com as palavras. Elas entregam a idade e você não sabe minha
situação.
– Sinto muito, mas como está sozinha agora, achei que estivesse sem
companhia.
– Acertou, mas foi por pouco. Encontrei um velho ex e quase saímos juntos,
não fosse o estado de bêbado em que se encontra.
– Chegou meu carro, posso pegar seu celular?
– Meu celular ou o nome do perfume?
– O número. O perfume, eu sei que usará em ocasiões especiais. Além
disso, deve ter outros tão maravilhosos quanto esse para momentos mais
descontraídos.
– Já estão buzinando, esperando você. Não vai querer arranjar briga, não é?
– Não vai me dar seu número?
– Não…
Entrou no carro sorrindo depois daquele duelo justo, mas chateado pelo
desfecho. No primeiro sinal, o carro atrás piscou o farol e fez sinal para
dobrar. Ele o deixou passar e o seguiu.
A noite ia começar agora.
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2 comentários

  • Anna Maria Bastos Guimarães disse:

    Gostei muito do texto.Parabéns!!

  • Andressa disse:

    Saudades daqui. Já fazia um bom tempo…
    Muita coisa mudou – esteticamente falando. Os textos continuam ótimos e nota-se a evolução na escrita.
    Vou tentar voltar a frequência de leituras.

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