A educação dos outros

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Educação dos Outros II

Cem dias até a Copa do Mundo. Seria recomendável que o carioca deixasse de lado seu esporte favorito – reclamar dos governantes eleitos e reeleitos pela maioria da população – e abrisse mão de praticar alguns maus hábitos que viraram quase uma marca registrada dos moradores da cidade. Aposto que você, leitor, uma notável exceção numa população de seis milhões, há de reconhecer que sobrou bem pouco tempo para melhorar alguns traços da educação “dos outros”. Vejamos então algumas sugestões para solucionar situações comuns que, caso fossem sanadas, poderiam não apenas deixar nossa cidade mais habitável, como também causar uma impressão melhor àqueles que vêm para a Copa do Mundo.

O trânsito:

É verdade, concordamos todos, que o prefeito abusou do direito de fazer modificações no trânsito. Mas o fato é que a situação não melhora quando o motorista resolve fechar um cruzamento para ganhar cinco metros e impedir que outro siga seu caminho.

Ao contrário do que muitos motoristas parecem imaginar, a buzina não tem o poder de Moisés para abrir caminho num mar de automóveis. É melhor manter a mão longe dela, para evitar tentações. Todo mundo vai ficar mais feliz.

Educação dos Outros V

O jeitinho:

Ao contrário do que muitos imaginam, as leis existem para ser cumpridas por todos e não apenas pelos outros. O objetivo não é encher o saco, mas contribuir para uma convivência harmoniosa entre as pessoas. A lei municipal, por exemplo, estabelece que os jogos de frescobol e altinho só podem ser praticados à beira-mar depois das 17h em feriados e fins de semana, ou melhor, em dias de praia abarrotada. Faz sentido. Descumprir é falta de respeito.

Lugares nas filas não podem ser comprados nem vendidos. Devem ser respeitados. Será tão difícil de entender? É claro que idosos, pessoas com necessidades especiais, crianças e mulheres grávidas têm a preferência em todos os momentos. Mas é feio transformar o vovô em office-boy para toda a família, quando é preciso enfrentar um banco ou lotérica. A condição é inevitável, mas abusar dela não deveria ser a intenção.

Só se deve entrar na fila do Caixa Rápido do supermercado se você tiver até 15 itens e não 16 ou 17 e pedir “um favorzinho” a caixa, ela sempre acabará aceitando, afinal o patrão quer faturar. Mas as pessoas da fila não vão gostar.

Usar carteirinha falsa para garantir 50% de desconto em ingressos para teatro, cinema e shows é um artifício de imenso mau gosto. Mas é claro que você nunca pensou em lançar mão de um truque tão baixo.

Boas maneiras:

Poucos parecem se atilar de que a rua não é um imenso banheiro público. Quer dizer, eu e você sabemos disso perfeitamente, os outros não. No carnaval, gasta-se uma grana com propagandas educativas, mas essa prática é corrente o ano inteiro. É frequente se deparar com pessoas “se aliviando” nas vias públicas. Muito difícil coibir esse hábito, portanto a campanha deveria ser ininterrupta, em todos os lugares. O cheiro fétido de banheiro público imundo em ruas de bairros residenciais enoja qualquer um. Não adianta estar entre as maravilhas do mundo, se a sensação é de estar dentro de uma privada.

O mesmo princípio deveria ser aplicado ao lixo na rua. É um (mau) hábito! Multar só serve mesmo para encher os bolsos da Prefeitura. Que tal começarmos com mais lixeiras, em formato decente, com capacidade de abrigar coco, por exemplo, a bebida oficial da orla carioca?

Na mesma linha, é bom lembrar que grafite é diferente de pichação. Os monumentos estão ali para serem admirados e não emporcalhados.

Gritar na rua ou em locais fechados deve ser um recurso reservado às emergências e não o tom normal de uma conversa.

E o celular não substituiu o cérebro de ninguém. Ou melhor, pode e deve ser desligado em salas de espetáculos, cinemas e congêneres. A comunicação é essencial, mas tudo tem limites.

***

Não sei se há tempo hábil para aprender tanta coisa até a Copa, mas quem sabe se eu e você, leitor, nos empenharmos em converter os outros seis milhões até as Olimpíadas? Afinal, se nenhuma obra ficou pronta para 2014, pode ser que tudo esteja tinindo em 2016.

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3 comentários

  • Não acredito que o carioca vá mudar tanto em tão pouco tempo. Mas, para variar, podemos começar votando com consciência na próxima eleição. Já ajudaria muito. Gostei muito do artigo.

  • naomeadaptei disse:

    A volta ao trabalho dos coletores de lixo após a greve limpará a cidade. Mas não limpará a impressão negativa deixada aos turistas (nacional/internacional) que foi à Cidade Maravilhosa pela primeira vez. É triste que neste país as coisas só funcionam com a pressão que se faz com base na imagem política das coisas. Não penso que os políticos do Rio de Janeiro estavam preocupados com o caos do lixo e sim com o arranhão na sua imagem política pela inércia. Ótima pauta.

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