A hora exata

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Quando será IV

A cada vez que saíam para fazer qualquer coisa que fosse, havia pequenas provocações de ambas as partes. Cada um testando como o outro reagiria. Era um jogo, uma troca de impressões, como se as preliminares se desenrolassem diariamente com perguntas, risos, toques, insinuações, meias respostas, tudo para criar dúvidas e expectativas. O desejo dos dois estava mais do que maduro, mas faltava um gesto, uma palavra, uma oportunidade.

Não havia qualquer impedimento. Mas ela não queria ser precipitada. E ele, quase arrogante, queria que ela sugerisse.

As trocas de beijos nas despedidas eram cada vez mais longas, como se fosse uma espécie de competição para ver quem se controlava mais, uma verdadeira tortura ou uma enorme bobagem.

As mãos nas costas, as pernas se tocando, os pequenos suspiros e uma sucessão de beijos. Depois, cada um para a sua casa com os pensamentos girando e arrepios que demoravam a passar.

Quando seria a hora exata? A pergunta martelava na cabeça dos dois. Não havia mais clichês em discussão. Estava estabelecido que ela não era “fácil”, nem ele sumiria após a primeira noite. Então quando seria? Aqueles joguinhos poderiam perder o sentido. Os dois poderiam perder o timing.

No final de uma noite em que desabava uma tempestade daquelas de fazer piscar as luzes de casa, mais uma vez com intermináveis beijos de despedida, ela pôs a mão na nuca dele e puxou com força exata seus cabelos. Foi a senha. Ele ligou o carro. Em silêncio, se dirigiram para algum lugar que só ele sabia. Um silêncio só quebrado pelo barulho do carro atravessando as poças d’água. Na verdade, ele dirigia ainda na dúvida se a levaria para sua casa ou para um motel. A chuva apertou e ele decidiu ir para casa.

Com frio na barriga, ela o olhava de esguelha. Estava nervosa, mas tão grande era a certeza de que aquele era o homem com queria passar o resto da vida, que ela se despiu das expectativas em relação ao que viria a seguir. Tudo sempre poderia ser diferente.

Ao chegar em casa, ele sabia que a noite poderia ser ótima, mas primeiro precisava se acalmar e deixar que a emoção tomasse o comando. Muitos e muitos beijos se seguiram, risos contidos e soltos, gemidos baixos e altos,  abraços onde se confundiam os batimentos do coração de cada um, as mãos percorriam todos os espaços que antes eram evitados, as pernas encostadas e por vezes entrelaçadas. Agora era ele que puxava lentamente, mas com firmeza, os cabelos dela, que tanto gostava.

Não perceberam que a chuva havia passado, que os trovões pararam, e que faltava luz.

Aproveitando a escuridão, ela perguntou em um tom sério:

— Por que não fizemos isso antes?

Ele demorou para encontrar uma resposta e até achou bom que ela não pudesse ver sua própria dúvida. Depois de uns dois minutos, ele se arriscou:

— Fazemos isso desde que nos conhecemos, mas só agora nos demos conta.

Mais e mais beijos. Mas naquele momento, dividiam a certeza de que, por um tempo que não saberiam precisar, eram perfeitos um para o outro.

 

 

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