Diminutivos, uma praga

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

gulliver1

Para um bom ouvinte, está claro que o emprego exagerado dos diminutivos é uma mania nacional, mas ela ganhou uma força especial no Rio de Janeiro. Não se trata de algo sazonal como as gírias que vêm e vão a cada geração, ou de muletas linguísticas como a atual “tipo” que minhas filhas usam com a mesma frequência com que respiram. É diferente, um vício que me irrita em dias de maior mau humor e que me causa intenso desconforto auditivo em dias de mais alegria.

Por trás do emprego sem parcimônia do diminutivo, com frequência está a vontade de demonstrar determinado grau de intimidade.  E mais uma vez temos como campeão nacional, quiçá universal, o carioca! Basta ver alguém uma vez, trocar duas palavras para que ele se torne imediatamente um irmão. Ou pior: um irmãozinho!

Por que qualquer objeto, comida, bebida, carro – tudo – fica melhor, mais bonito, mais gostoso e na moda, se for falado no diminutivo?

Vejamos uma situação típica. O sujeito sugere: “Vamos lá em casa (primeira mentira) tomar um vinhozinho”. O que vem a ser isto? Um convite modesto para o consumo de uma garrafa pequena de um vinho argentino de quinta categoria ao preço de 11 reais, já incluindo impostos elevados? Segue a resposta clássica: “Grande ideia, eu levo uns queijinhos pra gente bater um papinho”.  De que tipo de ideia estamos falando? E o que vem a ser um queijinho, um queijo pequeno, bom ou ruim? Escassez ou fartura? A minha dúvida mora nessa necessidade de colocar o inho em tudo.

No dicionário o diminutivo é dado para definir coisas menores ou demonstrar afetividade. Sendo assim, alguns inhos são permitidos, e no meu caso de humor oscilante e pendendo para o ruim, perdoado. Mas tudo tem limites: namoradas e recém-casadas, por favor, menos diminutivos nos apelidos dos companheiros, e jamais, em nenhuma hipótese, para a “ferramenta” deles, mesmo que vocês as considerem de reduzidas dimensões. Agora, namorados e recém-casados evitem também dar apelidos pseudocarinhosos às suas amadas. Jamais, realmente nunca, usem “gorduchinha”. É motivo suficiente para o Papa Francisco, mesmo argentino, anular o casamento.

inhos VII

O inquestionável Vinicius de Morais, famoso “poetinha”, que também usava por demais os inhos, em um dos seus mais famosos versos escreveu: “as muito feias que me perdoem, mas a beleza é fundamental”. Vejam só! Direto e reto, sem rodeios, amabilidades falsas, e sem diminutivos, e nem por isso deselegante.

Se fazer de íntimo é quase tão chato como invadir o espaço pessoal, falar de muito perto, ou a toda hora cutucar o seu interlocutor. E essa pretensa intimidade tem relação metafísica com a vontade de reduzir qualquer palavra a dimensões microscópicas.

Assumo que não tenho a altura mediana. Sou baixo. Isso deve ter criado em mim uma relação traumática e estabelecido minha antipatia por diminutivos.

Meus amigos e inimigos, sempre na mesma proporção, me deram e colocaram dezenas de apelidos ligados à minha estatura e é óbvio todos remetendo a ideia do menor: meio-quilo, piloto de autorama, salva-vida de aquário, entre outros, mas nunca dei liberdade maior do que Maurinho e só!

Acho que minha antipatia pelo “chopinho sentadinho comendo um salaminho com palitinho”, não esteja no diminutivo, mas no fato de quem quer que esteja ao meu lado nessa hora force tanto a mão para demonstrar intimidade comigo sem realmente sê-lo.

Escrever é um exercício ótimo; serve até como uma terapiazinha!

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

2 comentários

  • Andréa disse:

    Bom texto! Há tempos venho pensando nesta questão do uso dos diminutivos. Parece- me que há um desejo, no inconsciente coletivo, de parecer “bonzinho”. Já ouvi frases nas quais, praticamente, todas as palavras terminavam com “inha”. rs

    • Mauro Giorgi disse:

      É ruim parecer “bonzinho” não acha, ou é bom ou não o é. Obrigado pelo comentário é bem este o caminho o diminutivo torna todos “iguaizinhos”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *