De designer a professora de yoga: mitos e lendas sobre ser dona do próprio nariz

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Por Juliana Dominguez*

Sou formada em design, fui diretora de arte em publicidade, e redatora e editora de conteúdo. Hoje, sou instrutora de yoga, full time. Pode parecer, à primeira vista, que tenho uma vida tranquila e zen, sem chefes, sem horários rígidos. Olhe de novo: não é nada disso que você está pensando. Mas eu posso explicar alguns dos mitos que envolvem gente como eu, que fizeram uma mudança radical de carreira e começaram a trabalhar por conta própria.

EU VOU À PRAIA EM DIA ÚTIL E NÃO TENHO CHEFE

O mito da praia em dia útil é meu preferido. Sim, eu cheguei num ponto onde posso dar um mergulho em plena quinta às 14h30. Isso não quer dizer que tenho o resto do dia livre. Às 15h estou de volta aos estúdios, de onde só saio às 22h – o que nos leva ao mito número 2: ‘estúdios’ está no plural, porque trabalho em 3, sem contar os alunos particulares. Não tenho chefe? Na verdade, tenho um chefe a cada hora de aula. Sim, eles se multiplicam.

OK, MAS EU PASSO O DIA PRATICANDO YOGA E FICO SARADA NO INSTAGRAM

Esses dias, minha mãe me falou ao telefone “mas você sempre com essa coluna doendo… você faz Yoga, era pra estar toda alongada e relaxada”. Rá! Mito número 3: meus alunos fazem 1h30 de Yoga por dia. Eu faço 1h30 de Yoga ou 1h balé por dia, e passo cerca de 8h dando aula em 5 bairros diferentes, e de bike. Linda sílfide iluminada ao fim do dia? Aham…

TÁ, MAS PELO MENOS É VOCÊ QUE COBRA SEU VALOR. A GRANA COMPENSA.

Para construir o mito número 4, vou deixar aqui 2 dados e deixar que vocês façam uma conta aproximada. Em média, uma hora/aula em estúdio vale, no mínimo, R$50. Aulas particulares custam bem mais que isso. Entre estúdios e particulares, eu trabalho cerca de 30h semanais, sem contar com o tempo obrigatório (e não remunerado) que passo em casa estudando, montando aula e divulgando meu trabalho. Eu tenho um filho em idade escolar, dois gatos e moro com eles em um apartamento alugado na Zona Sul do Rio de Janeiro. Acho que é ok dizer que não sou exatamente uma versão feminina do Eike Batista.

ENTÃO PERAÍ: SE VOCÊ TEM O TRIPLO DE CHEFES, TRABALHA ATÉ TARDE, CHEGA EM CASA EXAUSTA E GANHA BEM MENOS QUE EM UM ESCRITÓRIO, ENTÃO POR QUE ESCOLHEU TROCAR DE CARREIRA?

Pois é. Mudar de carreira não foi exatamente uma escolha. Adoraria que essa história tivesse mais glamour, mas a verdade é que eu trabalhava em uma redação que sofreu cortes grandes na equipe, e de repente me vi com tempo livre, sem emprego e com a caixa de correio cheia de contas (elas não dão trégua, essas insensíveis). Enquanto buscava emprego, comecei a dar aulas como uma maneira de segurar as pontas. O lance é que – e isso eu aprendi na Yoga – você não pode se concentrar em duas coisas ao mesmo tempo. E meu foco acabou ficou nas aulas. Comecei substituindo professores, e em pouco tempo ganhei uma turma só minha. Depois outra; depois mais outra. E aqui estou, num caminho que inventei enquanto caminhava por ele.

Sim, eu ganho menos. Chego em casa cansada. Tenho uma coleção de (queridíssimos) chefes. Mas dou meus mergulhos nas terças à tarde, e me conheço mais a cada dia, e nunca fui tão feliz. Trabalho com gente que diz nunca mais ter sentido dor depois que começou a praticar comigo. Que dormiu como um bebê depois de dias de insônia. Que se movimenta melhor, que se sente melhor, que está mais feliz. Vale a pena chegar de noite cansada, mas ter essas histórias pra contar.

Então, se você pensa em mudar de uma carreira que te traga conforto por uma que te traga amor, o que tenho pra dizer é: vai doer. Vai cansar. Vai te demandar dedicação absoluta. Mas vai valer cada momento. Como dizia Cora, “Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça”. Se algo te faz infeliz, muda – porque nosso estado natural deve ser na felicidade, sempre.

Juliana Dominguez é… Se você leu o texto, já sabe muito bem o que ela faz, mas pode descobrir muito mais no site www.yogajoy.com.br e na sua página do Facebook em https://www.facebook.com/br.yogajoy?fref=ts

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